Artigo
para a SAF em Revista
De
pé, diante daquele mar de rostos femininos, eu me preparava
para falar sobre família no I Encontro nacional de Mulheres
Presbiterianas em Serra Negra. Embora tremendo diante de tamanha
responsabilidade, eu sabia que estaria falando a ouvidos atentos,
pois se há assunto que sempre interessa às mulheres, que as
preocupa, é o da família.
E hoje, mais do que nunca, temos razão em nos preocupar.
Tudo que ouvimos a respeito dos relacionamentos
familiares nos pinta um quadro triste de famílias
desestruturadas pela separação, pelos números cada vez mais
elevados de divórcios, pelo grande número de adolescentes grávidas,
por doenças sexualmente transmissíveis destruindo corpos
jovens e vidas inocentes, pela violência que resulta de crianças
sobrevivendo nas ruas, longe de qualquer cuidado e carinho,
envolvidas com drogas, cigarro, bebidas.
Garanto que pelo menos um desses problemas já tocou sua
vida, querida leitora. Já tocou a minha. Embora crentes, não
estamos imunes aos estragos que vêm ocorrendo na família. Mas
não precisamos nos desesperar, pois não estamos à mercê das
circunstâncias em que vivemos. Deus, em Sua soberania e
sabedoria, muitas vezes permite que passemos pelo sofrimento
para aprendermos os Seus caminhos. Ele nos dá princípios sólidos
e inabaláveis para nos dirigir, nos orientar e mostrar o que
deseja para nós. Como criador amoroso do mundo em que vivemos,
dos seres humanos e da família, Ele sabe do que precisamos para
viver bem.
Quer ver um exemplo de como Deus planejou tudo para o
nosso bem?
Vivemos num mundo governado por certas leis naturais, as
leis da física. Mesmo que você não entenda nada de física,
como eu, garanto que já ouviu falar na lei da gravidade. Essa
é a lei que diz que, se cairmos de certa altura, há uma força
que nos puxa para o chão e, portanto, inevitavelmente nos
esborracharemos. Aprendemos essa lei desde os tombos que levamos
quando começamos a trocar os primeiros passos e convivemos bem
com ela respeitando-a e evitando situaçòes nas quais ela será
exercida. Assim, é do nosso interesse respeitar e obedecer a
lei da gravidade e outras como ela se quisermos viver bem e saudáveis.
São essas leis que mantêm em ordem toda a imensa
estrutura do Universo. Elas não existem por capricho, pelo
gosto de fazer as pessoas se esborracharem no chão quando caem
de certa altura, mas para manter todo o Universo em existência.
Se, por acaso, a alguém fosse concedido o poder de apertar um
botão e desligar a gravidade, o Universo em si,
na forma como o conhecemos e que permite a vida que temos,
desapareceria no mesmo instante.
Da mesma forma que criou as leis físicas, Deus
estabeleceu leis espirituais que têm suas funções definidas
na boa ordem das coisas da alma e do espírito e as revelou em
Sua Palavra, o nosso Manual do Fabricante. Para viver bem como
pessoas e como famílias, precisamos respeitá-las e obedecê-las.
São elas tão confiáveis, imutáveis e inabaláveis quanto a
lei da gravidade e as outras leis naturais. Se quisermos famílias
fortes e equilibradas, temos de buscar o que Deus diz ser bom e
fazer o que Ele mandar.
Quando estudamos o plano de Deus para a família, vemos
três momentos importantes: A. Como Ele estabeleceu o casamento;
B. A triste descrição do que aconteceu quando nossos primeiros
pais pecaram; e, C. O que precisamos fazer hoje para
restabelecer a boa ordem da criação.
A. O projeto original
Quando Deus criou os seres humanos como homem e mulher,
Ele os fez iguais em sua essência, mas diferentes em função,
para viverem em comunhão perfeita com seu Criador. Eles
viveriam num relacionamento de perfeita intimidade em todos os
aspectos, sem nenhuma barreira, cimentado por uma visão comum
dos objetivos de suas vidas, um vivendo para o outro como a
melhor forma de desfrutar a felicidade de realizar-se totalmente
como parceiros complementares. Alimentados continuamente pelo
amor doador e gracioso de Deus, eles seriam vasos que, ao
transbordar, derramariam esse mesmo amor doador e gracioso sobre
o outro.
Deus fez primeiro o homem, e colocou-o no jardim do Éden
“para o cultivar e guardar”. Ele seria o provedor e o
protetor da criação. Depois, deu-lhe uma ordem: poderia se
alimentar das frutas de toda árvore do jardim, mas não das da
árvore do conhecimento do bem e do mal. A ordem representava
uma prova da sua obediência, uma admissão da criatura sobre
sua posição de ser criado diante do Criador, uma renúncia a
qualquer vislumbre de autonomia.
Depois, Deus declarou não ser bom o homem estar só e
disse como solucionaria aquele problema: “Far-lhe-ei uma
auxiliadora que lhe seja idônea” (Gen. 2:18). E tendo assim
planejado, executou Seu plano, criando a mulher a partir de uma
costela do homem e estabelecendo a família, pois abençoou
os dois e lhes disse: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei
a terra e sujeitai-a” (Gen. 1:28).
Encontramos na Bíblia três afirmações referentes a
cada elemento da família. São elas a forma como Deus nos
revela Seu plano original para o relacionamentos entre marido e
esposa, entre pais e filhos.
1. “O marido é o cabeça da mulher, como também
Cristo é o cabeça da igreja” (Ef. 5:23).
2. A esposa é a ajudadora do seu marido (Gen. 2:18,
20b).
3. Os filhos são bênção e herança do Senhor Deus
(Gen. 1:27-28; Sl 127:3).
Vamos examinar com mais detalhes essas afirmações.
1. O marido é o cabeça da mulher.
Quando o apóstolo Paulo escreveu essas palavras, usou a
língua grega comum que as pessoas a quem sua carta era dirigida
usavam no seu dia a dia. Segundo
um estudioso , havia duas palavras que Paulo poderia ter usada.
A primeira delas é a palavra arche (pronunciada “arque”),
que é traduzida por “cabeça” no sentido de denotar
anterioridade, autoridade, o primeiro em grandeza e que pode ser
traduzida por magistrado, chefe, príncipe, governante,
cabeceira de um rio, etc. Se ao usar a palavra cabeça Paulo
quisesse indicar alguém com autoridade sobre a mulher, teria
usado a palavra arche. Entretanto, ele usou outra palavra –
kephalé -- que também é traduzida por cabeça.
Essa palavra, da qual vem a nossa palavra cefaléia para
dor de cabeça, significa apenas cabeça, a parte do corpo
humano. Kephalé também
podia ser usada para se referir à parte mais proeminente, em
termos de posição, mas nunca foi usada para significar "chefe
ou mandatário". É também um termo militar que designa
"o que lidera, o que vai à frente", embora não no
sentido de dar ordens. Não é usada para o general, que dá
ordens às tropas, mas, sim, para o batedor, o que vai à frente
dos companheiros no campo de batalha, o que se expõe primeiro
ao perigo a fim de proteger e orientar os que o seguem. A
liderança do marido como cabeça vem de conhecer a vontade de
Deus e segui-la.
Paulo conhecia bem as duas palavras e, inspirado pelo Espírito
Santo, usou deliberadamente a segunda ao dizer que o marido é o
cabeça da mulher, aquele que lidera indo à frente para
proteger os seus, servindo-os e dando por eles a própria vida,
como Cristo fez pela igreja.
Para que o homem possa desempenhar bem essa função,
Deus o capacitou com mais força e energia físicas, mais
agressividade, o que o torna mais competitivo, mais voltado para
objetivos e idéias, mais lógico e racional, mais unilateral em
seu modo de pensar. Quando todas essas qualidades são
canalizadas em pról do bem da família, o homem se torna um líder
extraordinário, um conquistador, um vencedor.
2. A esposa é a ajudadora do seu marido
Após haver criado o homem, Deus disse não ser bom que
ele vivesse só. O próprio Criador lhe daria uma ajudadora que
fosse da mesma essência e da mesma espécie que ele, mas
diferente, para complementá-lo. Na essência, os dois seriam
iguais. Na função, seriam diferentes, complementares.
Ao fazer a mulher, Deus usou um método diferente daquele
usado para fazer o homem. Ela foi criada a partir de
outro ser humano, estando assim ligada a ele de forma
indestrutível. A palavra do original hebraico usada para
descrever essa ajudadora é “ezer”, que significa a pessoa
que está diante de outra, cercando, dando apoio, suporte. Ela
é usada no capítulo 2 de Gênesis duas vezes para se referir
à mulher, e em mais de cinqüenta vezes no restante do Antigo
Testamento para se referir a Deus como o ajudador do Seu povo.
Assim, a mulher, em sua maneira feminina de ser, reflete algumas
das características do próprio Deus.
Para que ela pudesse ser uma ajudadora competente e fiel,
Deus a capacitou física e emocionalmente para ministrar como
especialista nos relacionamentos. Ela tem mais resistência física,
é mais ligada aos sentimentos, mais comunicativa, mais
intuitiva, mais relacional, mais ligada às pessoas e ao meio
ambiente. O Dr. Paul Tournier, psiquiatra cristão suiço, que
escreveu um livro só sobre as mulheres, diz que isso ocorre
porque a mulher tem o sentido da pessoa. Por sua própria
natureza, ela é mais sensível às necessidades das pessoas,
aos seus sofrimentos, aos sentimentos. Essa é a essência da
feminilidade.
3. Os filhos são bênção do Senhor
Os filhos fazem com que seus pais se tornem co-criadores
com Deus. É através deles que um novo ser é formado, embora a
vida em si venha diretamente das mãos de Deus. Eles são
confiados aos pais durante um período breve da vida para serem
por eles criados e nutridos até atingirem a idade em que podem
assumir as responsabilidades da vida adulta.